Uma procura espiritual do som

A busca de uma dimensão espiritual do som tem sido uma prática comum entre músicos e ouvintes. Em muitos casos, essa busca é feita em torno de um instrumento musical e das múltiplas combinações que podemos atingir até chegar a uma voz pessoal. Mas e se o som que procuramos não estiver à nossa volta, mas numa remota estepe siberiana, nos mares gelados da Antártida, na floresta Amazónica ou nas profundezas de uma exploração mineira? Não o sabemos, mas é precisamente através do desconhecido que podemos construir uma mitologia imaginária, onde o som é o elemento primordial na génese do universo. Esta é a procura, e um objetivo não é estritamente necessário.

oCo é um projeto de quatro anos desenvolvido pela Sonoscopia em diferentes partes do planeta. Viajamos até locais específicos à procura de um som imaginário, não existente e que nunca foi ouvido. Até ao momento, fomos até às grutas pré-históricas do Curdistão Iraquiano, mergulhamos numa rara e vasta coleção de sintetizadores analógicos em Roterdão, descemos até às profundezas de uma mina de sal em Loulé e fomos de encontro à remota comunidade indígena de Kurtinurwa, na Sierra Nevada Colombiana. Nestes lugares, escutamos e sentimos a relação do som com os espaços e posicionamo-nos como parte da natureza.

Paisagens sonoras imaginárias

oCo é um dispositivo electroacústico que transforma o som original numa reinterpretação imaginária que se molda ao espaço onde é apresentado, produzindo novas forma de escuta e perceção. Nos diferentes espaços, são concebidos formatos de apresentação específicos, e que se adaptam e moldam a esses locais, podendo assumir a forma de concerto, instalação sonora ou filme. Os elementos trabalhados retratam uma cosmologia imaginária, onde diferentes entidades sónicas se posicionam no tempo e no espaço.